A Igreja no Brasil dedica o mês de agosto à intensificação da oração e reflexão pelas vocações. Neste ano, o Mês Vocacional tem como tema: “Igreja: uma sinfonia Vocacional” e o lema: “Pedi, pois, ao Senhor da Messe” (Mt 9,38), proposto pela Comissão para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). É importante destacar que o Mês Vocacional foi instituído em 1981, na 19ª Assembleia Geral da CNBB, com o objetivo de promover a cultura vocacional na Igreja no Brasil e, consequentemente, conscientizar as Comunidades da responsabilidade no processo vocacional. Portanto, a cada domingo do mês de agosto somos convidados a refletir e celebrar uma vocação específica: no primeiro domingo a vocação sacerdotal; no segundo a vocação matrimonial; no terceiro a vocação à vida consagrada; e no quarto domingo as vocações leigas. É bom destacarmos de antemão que rezar pelas vocações deve ser um compromisso permanente de todo Cristão Católico.
A própria palavra “vocação” deriva do verbo latino “vocare”, que significa “chamar”. A etimologia da palavra já nos introduz um pouco no significado mais profundo da vocação, pois se é um chamado, logo, pressupõe alguém que chama, e quem nos chama à vocação é o próprio Deus. Todos os batizados possuem um chamado. Primeiramente, Deus nos chama à vida, não para qualquer vida, mas a uma vida de santidade, afinal, somos imagem e semelhança d’Ele (cf. Gn 1,26). Somos chamados a ser manifestação do amor de Deus neste mundo, ou seja, cada um de nós tem uma missão muito especial. Porém, para nos introduzir ainda mais em seu mistério amor, Deus nos concede pelo batismo a graça, para que, de acordo com o estado de vida, vivermos o tríplice múnus: sacerdote (dever), profeta (função) e rei (serviço). Sendo assim, incorporados no Mistério de Cristo, cada um de nós é convidado a uma missão específica, como dito, em seu estado de vida. Ela pode ser ao sacerdócio, ao matrimônio, à vida consagrada ou de ser um cristão leigo.
Outro dado importante da vocação é que Deus nos chama pelo nome! Como fez com os Profetas, a exemplo de Samuel: “Samuel, Samuel!” (cf. 1 Sam 3, 4). Jesus também fez o mesmo. O Evangelho nos diz: “As ovelhas ouvem a sua voz: e chama pelo nome as suas ovelhas” (Jo 10, 3). Jesus também chamou pelo nome os seus Apóstolos (cf. Lc 6, 12-16) e chama a cada um de nós, seus filhos. É bonito ver nessa cena que o chamado dos Doze brota no contexto da oração de Jesus ao Pai, ou seja, vem do coração d’Ele (cf. Lc 6, 12). Portanto, o Chamado do Senhor é muito consciente e preciso. Isso deve ser para nós motivo de grande júbilo, pois, além de sermos criados por puro amor, agora podemos ver que Deus nos chama de uma maneira especial à uma missão. E a Igreja é literalmente isso:“assembleia dos chamados” (cf. CaIC, 751).Talvez precisemos permitir-se sentir esse chamado de Jesus no âmago do nosso coração. Escutar o nosso nome quem vem de uma voz suave e cativante… Saber que Deus nos enxerga como filhos e não matematicamente, como simples “números”. Permitir-se ser amado e chamado a amar em cada irmão e irmã.
E o Chamado de Deus é o mesmo para todos, pois, em todos os casos, Ele quer realizar uma história de amor conosco, mas ele se manifesta na realidade de cada um, nas formas mais variadas possíveis, pois o Espírito Santo sopra onde quer, quando quer e como quer. Mateus é um exemplo de que o Senhor chama em nossa realidade cotidiana e quer que trilhemos um caminho com Ele: “Jesus viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria de impostos. Jesus lhe disse: ‘Segue-me!’” (cf. Mt 9,9). Isso nos dá outra pista importante em direção à vocação: Jesus chama a cada um no ordinário da vida, no dia a dia, e não chama as pessoas “perfeitas”. É Ele quem toma a iniciativa! Precisamos ter em mente aquela célebre frase: “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”. Portanto, se Ele chama-nos à uma vocação, logo, ele vai dispor das condições para sustentá-la. Ele jamais nos deixará sozinhos. Afinal, Jesus não nos garante uma vida fácil, mas nos promete: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20). Confiemo-nos ao Senhor!
Podemos, então, nos perguntar: “Mas Jesus estava face a face com os Apóstolos, com Mateus… E comigo, como vou saber se Ele está me chamando também?” Como vimos, o Senhor age, na maioria das vezes, no ordinário da vida, sendo assim, não esperemos apenas “sinais extraordinários” para respondê-Lo, mas observemos os sinais de Deus em cada detalhe. E, portanto, o caminho para discernir é um diálogo humilde e sincero com Deus: a oração. O Chamado do Senhor não aparece por acaso, mas surge no coração daquele e daquela que reza, que está disposto a sentir as batidas do Coração de Jesus. O Papa Francisco nos recorda: “As vocações nascem na oração e da oração. E só na oração podem perseverar e dar fruto” (Regina Caeli, 21 de abril de 2013). Só é capaz de discernir a vocação quem é capaz de escutar o Mestre! Como diz a canção do padre Zezinho, SCJ: “Orar costuma fazer bem. O coração de quem se entrega à oração tem mil histórias pra contar(…)”. Realmente, faz muito bem! Sobretudo para discernir o chamado do Mestre.
Surge, então, à mente de muitas pessoas, sobretudo nos jovens, as seguintes perguntas: “Afinal, qual é a minha vocação? Como distinguir entre o chamado de Deus e uma vontade passageira?” Para começo de conversa é bom deixar claro que Deus está sempre a chamar! Mas essas não são perguntas simples e, consequentemente, a resposta também não chegará num estalar de dedos. Como já mencionado, a oração é o primeiro passo para um bom discernimento. Outro caminho para refletir o chamado em direção à vocação é discernir dentre as muitas “vozes” que surgem, qual é a Voz do Senhor. O Papa Francisco nos dá uma boa dica nesse caminho: “A voz de Deus nunca obriga: Deus propõe-se, Ele não se impõe. Ao contrário, a voz maligna seduz, agride, força: suscita ilusões deslumbrantes, emoções tentadoras, mas transitórias” (Regina Caeli, 03 de maio de 2020). Ou seja, a vocação nos lança no mar da liberdade, pois foi para isso que fomos criados (cf. Gl 5,1). E vocação é sinônimo de felicidade. Não felicidade passageira, mas felicidade duradoura, não obstante os desafios. E, ao lançar-nos à liberdade, a vocação também nos conduz ao serviço, pois vocação é serviço, a exemplo de Jesus (cf. Mc 10, 45).
Por fim, a vocação é verdadeiramente uma via de mão dupla: é um chamado de Deus e uma resposta humana. Deus em sua infinita bondade está constantemente a chamar homens e mulheres ao serviço da Igreja e dos irmãos e irmãs, para que, cada um em sua vocação específica, seja ela sacerdotal, religiosa, matrimonial ou laical, trilhe um caminho de amor. Mas, para todo chamado, é necessário que haja uma resposta, ou seja, se o Senhor da Messe nos chama, é necessário darmos um retorno. E é próprio de quem ama o Pai responder “sim” ao seu projeto, como fez a Virgem Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).
Que o Senhor da Messe suscite em nossos corações o ardor vocacional e que todas as vocações, unidas, numa bonita sinfonia, possam louvá-Lo e bendizê-Lo com alegria. E que Maria, Mãe das Vocações, interceda por cada um de nós, Vocacionados do Senhor.
Ryan do Nascimento Ventura – Seminarista do 2º Ano de Filosofia